Ele disse ser comum e, então, ela ficou se perguntando, se ser comum era exatamente querer igual aos outros, fazer como os outros, seguir um padrão… A variação do que se é está mais na cabeça dos outros do que em nós, porque ela mesma era muitas coisas, mas sempre havia um rótulo para sua maneira de vestir, de se comportar… até para o formato do rosto.

Ele não era comum, escondia-se o tempo todo, não se comprometia, não dizia nada antes de ouvir o que queria, nasceu para confundir!

Ficou pra ela o simples desejo de saber quem ele era, ainda que só um aspecto a interessasse. A possibilidade de cair num buraco negro também a amedrontava, mas ela não a negava.

Ela calculava o risco da maneira mais simples e deixava que os outros a vissem como quisessem, utilizando-se das conveniências. 

E o que é que me salva? Queria escrever um romance, explodir essas emoções que estão estocadas aqui feito minas terrestres, escondidas estrategicamente.Queria ser Alice e transformar meus medos em um rio corrente e navegar sobre eles. Mas estou assim: por concluir sentidos e palavras, grande e pequena, numa espera que não deveria existir!

Certas dificuldades são criadas quando queremos dar forma diferente ao que já existe. Não que eu seja contra a criatividade, falo de coisas definitivas, que são e não estão. Sempre imaginei que para escrever eu deveria estar preparada e me cobrava como se um diploma a mais pudesse trazer-me o dom em um passe de mágica. Apesar de sempre ter sido incentivada pelos amigos e familiares. Um dia li que escrever era uma maneira de tocar a realidade e eternizá-la, já que não sabemos quando, de fato, as coisas começam dentro de nós. Então farei dos meus dias, dos diferentes olhares e sorrisos o meu roteiro e, irei transpor aqui sempre que possível.

Percebi aos poucos através de leituras e por ouvir histórias que não estarei preparada para essa atividade porque não a quero como obrigação, imaginando que a qualquer hora ela pudesse me sufocar.

Então, estes escritos, estes versos são assim chamados “lidiânicos” não pelo fato de me pertencerem, mas por serem eu mesma, o melhor e o pior de mim sem a necessidade de que sejam aprovados porque não quero servir de exemplo, mas acredito que em algum momento talvez, eu possa servir de lição.

Quando se erra vem à tona todos os descompassos que possam ter havido em uma existência e tudo que era colorido passa a ser desbotado, e tudo o que era claro se mostra nublado. Com o meu erro me cobrei tanto, me perguntei se havia mais de arrogância e menos de tolerância em minhas palavras e finalmente conclui que errar dói muito. Tem gente que não se arrepende, e eu os admiro porque eu me arrependo. Sou feita das lições dos arrependimentos, não dos erros… São os arrependimentos que nos amargam a boca e que ferem nossos corações.

Se pudesse escolher pelo acerto, não erraria, mas minha imperfeição inerente a qualquer ser humano precipitou o erro, me tirou a visão ou parte dela, me tirou o raciocínio. Mas o que posso dizer é que me resta razão e sentimento que não me impedem de reconhecer o meu carrasco: o erro. Não há como passar uma borracha porque ainda que tenhamos o controle do lápis, ele tem efeito de caneta esferográfica, fica gravado… e o mínimo de esforço pode borrar e tornar feio e mais incompreensível o ato, o dito, o feito. E o tempo, ele tem sido o homem dos meus sonhos, pintará cores novas pra mim e levará o cinzento destes dias.

É preciso ter coragem pra se dizer não a uma vida de facilidades. Eu mesma fico me perguntando se o prato de comida que me alimenta e o teto que me cobre são suficientes para conferir a minha alma alguns momentos de felicidade. Serviriam talvez, mas hoje não bastam porque quando a gente se mistura a mundo de mediocridade a gente se sente pequeno, pouco merecedor até do que é essencial.

Eu devo dizer: tenho me acovardado diante dos meus sonhos, das minhas vontades… e isso faz parte de mim ser totalmente infeliz. Pioro tudo quando começo a justificar certas atitudes como imprescindíveis a minha sobrevivência e a sobrevivência de minha família.

Existem “nãos” necessários à alma ou você vende o que tem de melhor e dá apoio ao que é completamente injusto.

Não quero me contentar com a “merda” que está espalhada por aí e minha alma berra, está ferida, fedida, contaminada… e há de piorar com o julgamento de quem se exalta diante da minha fraqueza revelada.

Quero muito ver o seu sorriso quando eu disser: sou pior que você, sou nada porque me calo diante de uma vaidade doentia, de uma ganância demasiada, da inveja velada… sou pior que você porque alimento o que há de ruim no mundo com meu silêncio, mas as palavras são como pedras machucando minha consciência e meu grito se perde à medida que caio num abismo, sabedora de que não posso voar.  

Quando senti que tudo de bom que havia feito tinha se convertido a tua existência, reafirmei a minha vontade de ser sua e isso independia das amarras do tempo, das convenções… Esse desejo tem se apagado dia após dia e não é pela distância, é pela ausência. O motivo da minha poesia agora é saudade. Mas há em mim uma certeza, essa angústia não ficará. Ela pertence ao tempo, que carrega os pesos que a alma não pode suportar. 

Na casa dos meus sonhos

Há uma longa mesa de madeira

Na casa dos meus sonhos

Há uma mangueira no quintal

Há livros por toda parte

Há o sol invadindo a cozinha

Há música preenchendo os espaços

Na casa dos meus sonhos

Há cercas de madeira

Há roupas brancas no varal

Há jardim com onze-horas

Há grama verde e um lugar para balançar…

Há de ser também perto do mar

Na casa dos meus sonhos

Há meus filhos crescendo

Há meus netos nascendo

Haverá minha mão enrugada

E o meu “velho” numa cadeira a se balançar,

Enquanto eu estarei lá ainda cismando em sonhar

Outro dia comentei que nesses poucos anos que sou mãe não recebi presente no “Dia das mães”, mas logo em seguida me veio um peso na consciência… como eu haveria de querer algo além da especial condição de ser mãe? Não, eu não quero nada além. Isso tem me bastado e é uma felicidade completa. Ele veio do jeito e no tempo que sonhei…  um menino lindo, que já sabe falar que me ama espontaneamente, que me faz sorrir nas situações mais adversas… ele é o meu milagre de todos os dias.

É incrivel o poder libertador de algumas pessoas. Elas são especiais porque da forma mais natural permitem que sejamos nós mesmos, com defeitos e qualidades, como todo mundo deve ser ou é. Eu tenho amigas maravilhosas e, olha, não são muitas, mas bastam a minha alma, na medida e no tempo certo. E elas se superam em me ensinar a cada dia. São lições aos montes dadas a mim generosamente. Essa generosidade lhes é peculiar porque ainda que o mundo desabe, elas ainda são capazes de enxergar o outro. Amigas queridas, obrigada por me aceitarem como sou, por me proporcionarem sempre o sorriso mais sincero. Eu peço a Deus a capacidade de lhes proporcionar o mesmo e agradeço pelo sorriso de cada dia.

   

Foi como dessas certezas que surgem de uma intuição muito forte. Eu seria sua, soube quando andei em sua direção, quando permiti que sentisse o meu perfume, quando te dei o meu melhor sorriso… quando te toquei e desejei ser parte da sua pele.

Todas as minhas poesias se converteram indo ao seu encontro, como se já o esperassem há muito tempo. E então, elas te pertenciam? Sim pertenciam, são suas e renovam a felicidade que tive ao fazê-las.

Eu as dedico a ti como se oferecesse o melhor de mim.